A Finlândia, para mim, são umas meninas de cabelos cor de ouro e prata, um prato com sardinhas marinadas, um pedaço de pão preto…e o som da polca. As memórias, as gastronômicas e afetivas, sobretudo, são nossos grandes tesouros. De vez em quando, é bom dar uma olhada no fundo do baú.
Esta receita é uma jóia da Finlândia, mas cai como uma luva como aperitivo, complemento de salada ou numa massa fresca, acompanhada de uma cerveja gelada, no tórrido inverno dos trópicos.
Sardinha, arenque, salmão, os nórdicos marinam tudo. Aqui, no nosso caso, vamos de sardinha, da mesma família dos arenques, ricas em ômega-3, e que não pesam no bolso!
Marinar exige método e paciência. Os ansiosos podem ter dificuldade de entregar nas mãos do tempo a tarefa de maturar, perfumar e curar os peixes. Para os que topam o exercício ou estão em paz, é só seguir o roteiro.
Hoje é o dia 1. Compro sardinhas frescas, peço para que o peixeiro retire a cabeça e as escamas. Em casa, lavo-as muito bem. Numa vasilha funda, arrumo a marinada. Para 1 kg do peixe, 5 colheres de sopa de sal e o suco de uns 8 limões. Deixo 5 dias, sem mexer. Com tanto sal, pode até ser fora da geladeira, com o tempo fresco. Mas, pelo sim, pelo não, deixo as minhas na geladeira.
Passados os cinco longos dias, escorro todo o líquido, mas não lavo mais as sardinhas. Arrumo meus peixinhos numa tigela funda, ou lata, sem pele e espinhas, com rodadas do moinho de pimenta-do-reino, cebolinha verde, aneto, também chamado de endro, dill fresco, e bastante azeite. Depois, sem aguentar esperar mais um minuto, embora o tempo seja sempre a favor desse método de conserva, vou comendo aos poucos, com pão de centeio.
A vasilha cheia de sardinhas marinadas, guardada na geladeira, é o maior quebra-galho de todos os tempos. A sutileza do aneto, o principal e imprescindível tempero, dá a essas sardinhas à moda finlandesa um sabor delicado bem surpreendente.
Acompanhe com a bebida de sua preferência, e vá dançar a polca. Ouvi-la tocar, ao menos. Bom apetite!
SANDRA S. é carioca, formou-se em letras (cup-rio), com pós em literatura brasileira (puc-rio), e direito (ucam-rio). na frança, fez dois estágios profissionais de confeitaria na école lenôtre. hoje, escreve, traduz e cozinha. biblioteca.culinaria@gmail.com @setecolheres
Gosto muito das receitas da Sandra! Sempre com algo bom e diferente para alegrar a vida da gente.