Para quem você gostaria – estou falando de desejo – de preparar um prato? Metafórica ou metonimicamente, pela boca de quem você gostaria de ser engolido? E na real, quem vem para jantar? Amigos queridos, família, um mix, ou quem faz o seu coração bater mais forte, para um tête-à-tête? Com qualquer convidado, a ideia do bom anfitrião é proporcionar preciosos momentos de prazer, e o caminho é soltar a fantasia…ainda que só nas panelas.
Hoje, pode ser a hora de abordar as caçarolas com animação e fazer do ato de cozinhar uma folia total. E sem desgaste! Aqui, hoje, as receitas são descomplicadas e muito eficazes.
Para a conquista garantida dos palatos, revelo uns pratos que são fetiche puro e de uma simplicidade só: salada verde com vinagrete de laranja, risoto de ervilhas e hortelã, cubos de abacaxi com especiarias e sorvete de manga. A digestão de um jantar assim, de verão, é fácil, leva o humor lá pra cima, e ainda deixa a alma cantando.
Começo pela sobremesa. Corto o abacaxi em cubos, recuperando o suco que vai se soltando. Espremo um limão e uma laranja, e reservo. Polvilho o fundo de uma panela com açúcar, levo ao fogo médio e deixo caramelizar. Fora do fogo, e com todo o cuidado para que o caramelo não se projete perigosamente, acrescento o suco dos cítricos. Descasco e corto em rodelas fininhas um pedaço pequeno de gengibre, raspo uma fava de baunilha aberta longitudinalmente para o máximo aproveitamento de seus grãos, e junto ao caramelo, que volta ao fogo brando por mais uns 10 minutos. Retiro do fogo e junto os pedaços de abacaxi ao caramelo de especiarias. Deixo macerar por 2 horas, pelo menos, tampado. Na hora de servir, descarto as especiarias, arrumo uns pedacinhos de abacaxi nas tigelinhas individuais, rego com o caramelo e, por cima, ponho uma bola de sorvete de manga. Mais do que tudo, um tributo ao nosso país tropical, abençoado…
A salada é um mix de folhas orgânicas, azeitonas pretas, um talo de aipo picado e lascas de amêndoas. O vinagrete: suco de 2 laranjas, 3 colheres de sopa de balsâmico, 1/2 xícara de azeite, 1 colher de chá de mostarda dijon, 1/2 colher de chá de gengibre ralado fino, 1/2 colher de chá de açúcar mascavo, sal e pimenta. Arrumo a salada de acordo com o humor do dia, e o resultado é sempre bom, fresco, revigorante. Chego a pensar, por toda a verdura, no poeta Cesário Verde. Livres associações, liberdades. Assim, no plural, que é pra ampliar o espectro.
Para o risoto não tem muito como escapar. Cole o umbigo no fogão, refogue no melhor azeite uma cebola pequena, picadinha, junte os grãos do arroz (se puder ser um arborio…), regue com 1/2 copo de vinho branco seco, deixe evaporar, e agora junte concha após concha o caldo de legumes ou água mesmo. Perto do final, lembre-se que o processo leva de 15 a 18 minutos, acrescente 1 xícara de ervilhas frescas, folhinhas de hortelã, um pedaço de manteiga fria, lascas de parmesão. Verifique o sal e dê umas rodadinhas no moinho de pimenta.
Arme o cenário que puder, mas capriche. Não aceite nada menos que o melhor de si. Afinal, fantasia é sua…
PS: o menu serve até como ideia de jantar diplomático…não tem saia justa. Kosher, vegetariano, católico, as sete linhas, todos são benvindos. Bom apetite!
SANDRA S. é carioca, formou-se em letras (cup-rio), com pós em literatura brasileira (puc-rio), e direito (ucam-rio). na frança, fez dois estágios profissionais de confeitaria na école lenôtre. hoje, escreve, traduz e cozinha. biblioteca.culinaria@gmail.com @setecolheres
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