Os queridos amigos veganos que me perdoem, mas um ovo fresco me tira do sério.
Gosto do simples: ovo frito com pão; cozido, no cozido português; escalfado, desfazendo-se por entre as folhas tenras de uma salada fresca só de folhas.
E gosto nos molhos em geral ou na salada Caesar em particular: um ovo quente, suco de um limão, azeite, sal, pimenta, parmesão ralado, croûtons, uma salada preparada e servida numa tigela em que se esfregou um dente de alho, para que essa sutileza confira aroma sem ofensa. Há quem ponha alici, mas é controverso: há quem diga, e prove, que, na origem, o tal Caesar não punha nada.
Pouco importa. Gosto também nos sanduíches, um ovo valendo por suas mil possibilidades, que tanto pode ser a base de um molho, quanto o ingrediente principal ou o coadjuvante. Salada de ovo, por exemplo, com aipo e mostarda num pão de miga, como se diz por aí, faz um clássico da categoria.E, quando o assunto é ovo, é dos caipiras que eu gosto mais, pelo frescor que muda tudo, e pela ideologia. Conforta-me saber que a galinha e o galo se entenderam.
No fim de semana, ganhei ovos caipiras frescos e, por extravagância, preparei com eles o verdadeiro crème pâtissière.
Sem provocação, com raras exceções, o que costumamos ter, ver e comer por essas bandas é um mingauzinho com essência imitação de baunilha, um creme pálido feito com alguns ovos de granja e muita farinha. Um grude.
Fiz o que merece o nome, o que honra um povo inteiro acostumado à fina confeitaria. Se estiver disposto ao desafio, anote:
1 litro de leite
1 pitadinha de sal
2 boas favas de baunilha do Tahiti
12 gemas
250g de açúcar
90g de maizena
50g de manteiga
É o caminho para o Nirvana. E, dependendo do humor, perfuma-se o creme com Grand Marnier, café, Cointreau, rum. E serve-se em bombas, em mil folhas, em tortas de frutas. O segredo é não ter pressa e seguir o passo-a-passo.
Metade do açúcar (125g), bato com as gemas; a outra metade vai para o fogo com o leite, as favas de baunilha, o sal e a maizena. Deixo o leite descansar um pouco após a fervura. Misturo as gemas batidas e o leite fervido com baunilha, volto ao fogo por uns 3 minutinhos, sem ferver. Retiro as favas e resfrio o creme sobre uma grande vasilha com pedras de gelo e água. Quando está a 50ºC, junto a manteiga em pedacinhos. Cubro com filme plástico diretamente sobre o creme, para que não crie uma película ao esfriar, o que comprometeria o aveludado do creme.
É nostálgico, calórico, e delicioso!
SANDRA S. é carioca, formou-se em letras (cup-rio), com pós em literatura brasileira (puc-rio), e direito (ucam-rio). na frança, fez dois estágios profissionais de confeitaria na école lenôtre. hoje, escreve, traduz e cozinha. biblioteca.culinaria@gmail.com @setecolheres
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