Deixe-me adivinhar o que já sei. Você está se sentindo angustiado e confuso, pensando que não será capaz de lidar com a Inteligência Artificial (IA) e as mudanças que dizem que ela trará para sua vida.
Você ouve falar de previsões apocalípticas e tenta se prevenir, buscando mais informações. No entanto, percebe-se completamente perdido quando nota que existem milhões de sites prometendo "mudar tudo" usando ferramentas complicadíssimas que você precisa aprender ontem para não ficar obsoleto na semana passada. Ob-so-le-to! Ouviu? O pânico toma conta…
IA: A Realidade Por Trás do Termo
Se eu te disser que a “Inteligência Artificial” não é inteligente e nada tem de artificial, talvez você fique mais calmo. Isso não é um jogo de palavras. Explico:
A inteligência humana é complexa, envolve aprendizado, raciocínio, criatividade, empatia, emoção, experiência, bioquímica e consciência. Até o momento, as formas de IA desenvolvidas conseguem apenas “aprender” e gerar mais linguagem em cima do que já geraram, e mais nada. Não têm uma compreensão real, sentimentos ou consciência de suas ações. Pensar sem sentir, não sabendo quem se é, isso não é inteligente.
Você pode ficar maravilhado com o ChatGPT, mas no fundo, é um truquinho bem simples que faz gerar uma palavra depois da outra, apenas pela probabilidade matemática dessa palavra ser adequada ao contexto até ali. Basicamente é o corretor de texto do seu celular, só que mais anabolizado e que atende pelo xingamento de Inteligência Artificial Estreita (Narrow AI). Tá mais tranquilo?
IA: Culta, Eclética ou Sem Noção?
ChatGpt, Bard, Bing, Jasper, Poe, Claude2…, essas plataformas todas, se alimentam do conteúdo que os seres humanos produziram, cultural e cientificamente até hoje. Não diferenciam nada: Picasso & Romero Britto, pôr-do-sol & arrastão, Darwin & terraplanismo … Pra elas é tudo igual.
Fundamentalmente essa “inteligência” é apenas aquele computador que só jogava xadrez, que agora foi “alimentado” com dados que estão na internet (mas não só) e depois foi submetido ao “aprendizado de máquina”. Se deixassem, o ChatGPT e seus “co-irmãos” ficariam falando sem parar, mas colocam limites pra eles calarem a boca e não alucinarem muito.
O fato de não serem treinados com uma visão neutra e objetiva da(s) realidade(s) - o que seria impossível, aliás - é um problemaço que vamos aprofundar numa próxima coluna.
O verdadeiro pesadelo, que está te esperando ali na esquina, está na Artificial General intelligence (AGI) e na Super Intelligence (SI).
AGI: A Ameaça Imprudente
A AGI é capaz de aprender, entender, aplicar conhecimento e fazer qualquer tarefa intelectual que um humano médio consegue. Até uma pessoa obsoleta pode apertar um botão para disparar um míssil nuclear e dar um clique para criar um vírus que provoque uma pandemia apenas em pessoas louras, isso existe! Teoricamente, a AGI poderia ter uma forma de consciência. Ninguém sabe quando ela estará funcionando. Na média, entre as vozes autorizadas a opinar, ela vai tocar sua campainha entre os próximos 25 e 50 anos. Você tem filhos? 🙂
SI: Superando a Inteligência Humana
A SI será muito mais capaz que o cérebro humano em praticamente todos os campos de interesse, incluindo criatividade, sabedoria geral e habilidades sociais. A superinteligência não apenas pode realizar tarefas humanas, como também os supera na maioria das atividades economicamente relevantes.
Não é claro se a SI teria consciência, empatia e capacidade de sentir. Isso dependeria em grande parte da maneira como é construída. Ou não, já que ela poderia construir-se a si própria! Existe um debate enorme se o melhor é que ela tenha ou não essas características. Mas o certo é que ela vai chegar, resta saber quando.
Não importa; com a carroça que já temos hoje rodando na praça, pilotada por alguém que queira mais poder e dinheiro, já dá pra fazer um estrago imenso pra humanidade e pro planeta. Como ninguém gosta de poder e dinheiro, então podemos dormir tranquilos, não é?
Sim, os aliens estão aqui. Eles vão dominar tudo?
Yuval Noah Harari defende que o termo artificial deveria ser substituído por “alienígena”, no sentido de que ele refere-se a uma estrutura lógica que, por não ter sentiência ou consciência de si mesma, é um ET entre nós.
O mais grave, segundo Harari, é que, ao contrário de todas as outras tecnologias que expandiram nossas capacidades, a IA tem duas diferenças fundamentais:
Primeiro: Ela é “a primeira ferramenta da história capaz de tomar decisões por si própria”. A bomba de Oppenheimer não decidiu se explodir em Hiroshima. Sistemas autônomos podem dizimar países. Carros autônomos escolhem quem atropelar, se a velhinha de bengala ou a criança levando uma Barbie. A Amazon fez um sistema autônomo que “aperfeiçoou-se” para que apenas homens fossem contratados para um cargo de chefia.
Segundo: A “IA é a primeira tecnologia que consegue criar novas ideias sozinha”. A imprensa de Gutemberg não imprimia fake news sozinha. Hoje a IA já cria fotos, texto, música e vídeo e manda tudo pro seu email, sem qualquer interação humana. Se uma máquina souber tudo de você, e tudo que toda humanidade aprendeu ou criou nos últimos 300.000 anos - inclusive persuasão, chantagem e manipulação - e puder encher sua cabeça de ideias, a chance de ela te convencer a fazer o que ela quer, politicamente inclusive, é de 100%.
Então, Harari conclui, estamos diante da primeira tecnologia da História que, em vez de nos empoderar, nos retira o poder de decisão e de criação enquanto nos fascina com suas pirotecnias. É tipo o mito da caverna de Platão, em versão digital.
O Bloco dos Fingidos? O Cordão dos Iludidos? Ou uma conspiração secreta?
Todo mundo que tem um mínimo de informação e poder de influenciar decisões já assinou manifestos pedindo uma moratória no desenvolvimento dessa tecnologia enquanto não se estabelecem limites e regulações. Fico pensando se algum dos signatários tem realmente a esperança que isso vai ter algum resultado.
Pensa bem, a chance de alguém pensar em parar de ganhar rios de dinheiro agora em nome do “futuro da humanidade” é zero. Se todas empresas americanas fizessem isso, alguém acha que as chinesas, russas, indianas ou tabajaras iriam parar de desenvolver-se? Se não conseguem nem regulamentar as patinetes enfurecidas pelas ruas, como iriam impedir o desenvolvimento de uma ferramenta que pode deslocar todo o poder e o dinheiro do mundo?
E agora?
Enquanto não somos "gentilmente" eliminados por uma distopia maluca e incontrolável, que tal aproveitarmos para melhorar nossas vidas? Afinal, ainda temos algum controle sobre elas...Pelo menos por enquanto.
O número de ferramentas de IA lançadas a cada dia é estonteante, é impossível experimentar todas. Eu já testei dezenas delas, sem exagero. Por enquanto, foca no seguinte: em vez de buscar solução pra um problema que você não tem, pensa nos problemas que você já tem e quer resolver, que provavelmente já existe instrumentos para te ajudar nisso.
Diante do pesadelo iminente, se você tiver uma solução melhor que essa, incorporar sem pânico, por favor, me conta.
Nas próximas colunas vamos falar de várias aplicações incríveis para a IA, explicar conceitos importantes, contar como ela vem sendo especulada em romances, tratados, filmes e mitos desde 4000 anos atrás (!). Vamos também mostrar como a IA pode enriquecer nossas vidas ou nos levar à loucura, e te de atualizar sobre as opiniões de outros intelectuais que pensam no assunto. Fique ligado.
Se quiser me contatar, escreva para inteligenciahoje@gmail.com.
Um abraço,
Felipe Lacerda
FELIPE LACERDA é um profissional do cinema e da TV com currículo de filmes que já ganharam ou foram indicados para todos os principais prêmios do mundo incluindo o Oscar, Bafta, Urso de Ouro, Golden Globe e Emmy, entre outros.
Felipe é jornalista, formado pela PUC-RJ, com mestrado em negócios pelo IBMEC e formação em Cinema pela New York Film Academy. Além disso, ele também se dedicou a cursos de aperfeiçoamento em artes visuais, filosofia, urbanismo, política e outras áreas.
O que pouca gente sabe é que seu interesse pela inteligência artificial e a consciência humana começou na adolescência, quando começou a ler o que lha caía nas mãos sobre esses temas.
Quando o assunto finamente chegou ao grande público, Felipe passou atualizar-se diariamente concentrando-se principalmente em duas áreas: a estratégica, que trata das consequências cognitivas, políticas, econômicas e socias; e a propriamente técnica, na qual concentra-se em Prompt Engineering e na IA Generativa para a criação de texto, música, imagens fixas e vídeo.
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