A Bahia nos deu o acarajé, o abará… e muito axé! Acarajé e abará (a versão cozida), perfeita comida africana trazida pelos negros para saudar os santos do candomblé. Comida-oferenda. E daí a prato cotidiano dos baianos foi um passo.
Como o acarajé é comida de orixá, não pode faltar no tabuleiro de nenhuma baiana… Meu tabuleiro é carioca, aculturado, mas também tem! Faço a versão original do bolinho, só que com recheio vegetariano, sem camarão seco, e um vinagrete esperto na pimenta. Fica ótimo!
O acarajé pode – e deve – ser usado para abrir os caminhos, trazer força e coragem. A qualquer tempo.
Vamos, pois, às caçarolas…O feijão-fradinho é posto de molho em água fria, de véspera.
No dia seguinte, jogo a água fora, esfrego os grãos num pano limpo pra liberá-los das cascas, transformando-os em massa no processador ou moedor, com 2 cebolas cruas e sal.
Dessa massa, formo as quenelles (sim, desculpe o termo, mas bolinhos formados com duas colheres são quenelles), e frito-as em azeite-de-dendê diluído em um pouco de azeite de oliva. Só pra suavizar, não temam: nem chegam a perder o sotaque.
Como manda a tradição, ofereço os primeiros acarajés para o santo. E continuo a fritar, na mistura dos dois azeites.
Abro os bolinhos, um a um, coroando suas fendas com um vinagrete feito com pimenta malagueta e coentro, tomate picadinho, um pouquinho de salsa, sal, azeite de oliva, limão.
É quitute pra santo nenhum botar defeito!
SANDRA S. é carioca, formou-se em letras (cup-rio), com pós em literatura brasileira (puc-rio), e direito (ucam-rio). na frança, fez dois estágios profissionais de confeitaria na école lenôtre. hoje, escreve, traduz e cozinha. biblioteca.culinaria@gmail.com @setecolheres
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